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sexta-feira, janeiro 06, 2006

Bugatti Veyron: O mito das 1001 noites...


O Bugatti 16.4 Veyron é um exemplo perfeito de que “quem ri por último, ri melhor”. E isto porquê? Quando Ferdinand Piech, na altura presidente do grupo Volkswagen, pediu aos seus engenheiros que construíssem um automóvel com 1000 cavalos de potência e que atingisse mais de 400km/h com toda a segurança, estes ficaram estupefactos. A Bugatti, marca que durante décadas construiu os carros mais fascinantes de todos os tempos, fora ressuscitada, e era o desejo de Piech que o seu primeiro automóvel, depois de ter sido adquirida pela Volkswagen AG, fosse sensacional e honrasse o nome do seu fundador, Ettore Bugatti. Como não poderia deixar de ser, o nome escolhido para o novo super carro seria Veyron, em homenagem ao famoso piloto de corridas Pierre Veyron, vencedor das 24 horas de Le Mans de 1939, para além de outras categorias e que contribuiu para que a marca francesa Bugatti ganha-se fama. Quanto à designação 16.4 provém das características únicas do seu motor: um 16 cilindros em W (basicamente foram montados dois motores 8 cilindros em paralelo) e 4 turbocompressores!

O projecto foi para a frente e em 1999 no Salão de Tóquio foi apresentado um protótipo (nessa altura com um motor 18 cilindros). Em 2001 é anunciado que o motor será diferente, passando a ter 16 cilindros e 4 turbos. Mas à medida que o carro ia evoluindo começaram a surgir problemas. O carro a alta velocidade apresentava-se particularmente instável, ocorrendo inclusive um acidente durante os testes (um protótipo foi destruído e o piloto ganhou um valente susto). Outro dos carros fez um pião a alta velocidade. Os pneus também eram outro dos problemas, pois só eram capazes de se aproximar dos 360/380 km/h. A partir deste limite tornavam-se perigosos. Enquanto isso, a produção do modelo ia sendo adiada data após data. Todos faziam troça da Bugatti e dos engenheiros da Volkswagen, quer os outros construtores, quer os especialistas na matéria, como ainda os cidadãos comuns, enfim, todos nós! (até eu gozava com a situação. os meus amigos decerto se recordarão dos meus comentários atrozes...). Havia quem afirmasse que se tratava de um “bluff” da indústria automóvel ou que tudo não passava de um sonho, uma quimera de Piech e que nunca viria a ser concretizado.

Os anos foram passando e com imensa dedicação e engenho os técnicos iam resolvendo um a um os problemas. Mas ainda existiam grandes dificuldades: o motor tinha problemas de arrefecimento e as caixas de velocidade simplesmente... explodiam! O binário de 1250 Nm entre as 2200 e 5500 rotações era excessivo. Mesmo quando a caixa foi reforçada, a partir dos 350km/h o óleo “inchava” e esguichava pelas fissuras!
Em 2005, ao fim de 5 anos desde que o carro tinha sido apresentado à imprensa internacional, finalmente iria entrar em produção. Os problemas de arrefecimento foram resolvidos através de grandes entradas de ar e pelo facto de o motor não ter cobertura (está literalmente à vista, sem “capôt”...) e pela introdução de 10! radiadores: 3 para o motor, 3 para os intercoolers, 1 para o óleo do motor, 1 para o óleo do diferencial, e finalmente, 1 para o fluído hidráulico que faz funcionar o aileron. A instabilidade foi resolvida com uma “asa” traseira que se adapta consoante a velocidade e as necessidades do momento. Apresenta três posições pré definidas: Standard, Handling e Topspeed. No modo intermédio parece um “caça supersónico”, com a asa numa posição extremamente elevada, funcionando apenas até aos 375km/h, limitados electronicamente. Para se poder activar o modo Topspeed é necessário parar o veículo, inserir uma segunda chave feita para o efeito. O limitador fica desbloqueado, o computador de bordo analisa se tudo está em perfeito funcionamento (incluindo a pressão dos pneus) e a asa traseira baixa de modo a que não sirva de travão aerodinâmico. A velocidade máxima real é de 407 km/h, registados oficialmente...

A Michelin criou uns pneus específicos para o modelo, capazes de aguentar tais esforços. A caixa de velocidades é uma surpreendente DSG de 7 velocidades. O modo de funcionamento é idêntico às caixas DSG dos modelos Volkswagen e Audi. Enquanto a mudança está engrenada, a outra relação superior já está pré seleccionada. Então quando é mudada, a rapidez de actuação é tal que nem se sente. É quase como se estivesse sempre na mesma relação de caixa! Jeremy Clakson, jornalista da revista Top Gear, falou pessoalmente com o técnico responsável pelo desenvolvimento da caixa de velocidades. Este admitiu ter sido o trabalho mais difícil que já teve na vida! E estamos a falar de um homem que cria caixas para os fórmula 1!!! Ele próprio referiu: “Oh, F1 não é nada. Não têm nada a ver com a potência do Bugatti e só têm que durar duas horas. A que está no Veyron tem de durar 10 ou 20 anos.” (retirado do site Top Gear).

Para além dos 16 cilindros e dos 4 turbos referidos anteriormente, existem mais números “assustadores”. Possui 7993cc, apresenta 64 válvulas (quando alguns “meninos se gabam de ter um 16 válvulas, até me apetece dar uma gargalhada...). O combustível é injectado por meio de válvulas electromagnéticas, directamente nas câmaras de combustão, de acordo com o sistema FSI (de injecção directa), altamente eficiente e que reduz as emissões.

Os discos dianteiros têm um diâmetro de 400 milímetros e os traseiros de 380 milímetros. Tem pinças monobloco de oito pistões em titânio, com coroa em aço inox e protecção cerâmica contra calor, pesando apenas 5,7 kg. O próprio travão de mão foi reforçado e está ligado ao ABS, de modo a que em caso de falha dos travões (muito pouco provável), a velocidades moderadas o carro possa ser imobilizado apenas recorrendo a este travão!
Para por no chão esta potência colossal existe um sistema de tracção às 4 rodas. No interior merece destaque o potenciómetro que mostra a potência que está a ser debitada em cada momento. 1001 cavalos é a potência máxima anunciada, mas os técnicos da marca já referiram que esta poderá atingir na realidade cerca de 1036 cavalos... Estamos a falar de um carro de produção, capaz de circular nas estradas e que pode durar 10, 15 ou 20 anos sem avarias! Leva 16,7 segundos dos 0 aos... 300km/h! Se os caros leitores não têm noção do que isto é, façam o favor de por o relógio a contar!
O Veyron tem um depósito de gasolina com capacidade de 100 litros (deve dar muitos pontos nos cartões de abastecimento...) e que numa condução a fundo evaporam em 12 minutos! Sim leu bem! gasta teoricamente 100 litros em 12 minutos! Consome exactamente 1 litro para percorrer um quilómetro a fundo!

Sinceramente, podia continuar aqui a descrever este maravilhoso automóvel durante mais 100 páginas, mas é preferível ficar por aqui, pois o leitor já deve está quase a adormecer de tédio. O que importa reter é que o Bugatti 16.4 Veyron revolucionou o reino dos superdesportivos. É quase como um avião concord (que por acaso já deixou de circular). É desafiar as leis da natureza. Mesmo aqueles que não se interessam por automóveis acabam por respeitar e manifestar interesse por esta máquina. É superar as barreiras!
Se alguém estiver interessado no carro, aconselho vivamente a que fundem um cartel de droga, ou entrem no ramo das armas ilegais, pois com os impostos, este carro pode ser adquirido em Portugal por 1 263 790 euros... Façam as contas. O mais curioso é que só na recente exposição no Dubai, foram vendidos 6 Bugattis, que se pode juntar às 50 unidades que já se encontravam reservadas.