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domingo, dezembro 11, 2005

Volkswagen Lupo 1.2 TDI "3L" - Aventura Urbana


Existem bons e maus momentos na vida. O mesmo acontece relativamente à análise de automóveis. Por vezes tem-se a possibilidade de experimentar máquinas que ficam para sempre na nossa memória e outras em que se testam veículos que nos provocam "pesadelos". A Sexta-Feira passada foi um dos maus dias... Devido a circunstâncias no mínimo hilariantes, testei um Volkswagen Lupo por terras de Espanha (viatura usada). O leitor poderá pensar: - «Mas afinal ele é esquisito, pois um Lupo é uma viatura igual a tantas outras», mas é que não se trata de um Lupo qualquer, mas sim dum 1.2 TDI 3l Automático. Para quem não sabe, a Volkswagen lançou esta versão com o objectivo de criar uma viatura que num consumo combinado conseguisse gastar cerca de 3 litros de gasóleo aos 100km. Para tal recorreu a uma motor 3 cilindros, com 1200 centímetros cúbicos (associado a um Turbo compressor), que debita uma "estonteante” potência de 61 cavalos... Mas o motor não bastava. Como tal, os técnicos da marca procuraram reduzir o peso da viatura, optando pelo alumínio na construção de alguns painéis da carroçaria e do capot. Para além disso, dispensaram-se alguns elementos, como os vidros eléctricos, para reduzir o peso oriundo dos motores eléctricos.
Logo na fronteira entre Portugal e Espanha, passei para o volante da “máquina”, para um percurso de aproximadamente 50 km’s até à cidade de Huelva. Coloquei o manípulo da caixa em “drive” (modo totalmente automático) e lá vamos nós... Deparei logo de imediato com uma das maiores limitações deste género de veículos, a potência. Até aos 120/140 km/h até que não marcha mal, devido ao reduzido peso, mas a partir deste patamar “acabaram-se as pilhas”... era engraçado quando pisava o acelerador a fundo e continuávamos à mesma velocidade! Uma breve passagem pelo velocímetro e era possível verificar que não era de facto assim: estávamos a progredir de velocidade, 141, 142, 143 km/h... estávamos de facto a aumentar de velocidade. Ao fim de uma meia hora, numa descida e com vento a favor alcançámos quase 180km/h, acusados no velocímetro, mas que de certeza, não seria a velocidade máxima real. Reduzi a velocidade, para não ser apanhado em excesso de velocidade pelos “nuestros hermanos” e coloquei-me numa velocidade média de 120km/h.
Como velocidade não era com o Lupo, comecei a observar a meu redor e encontrei as primeiras boas noticias. Apesar de já ter alguns anos, o tablier continua a ter um design agradável, para além de particularmente bem construído, pois não apresentava sinais de desgaste, o que só abona a favor do pequeno citadino, que na altura em que foi lançado no mercado, era uma das referências do segmento no que à montagem e escolha de materiais dizia respeito. Para além disso, para os ocupantes dianteiros abunda até algum espaço, parecendo que nos encontramos num veículo de maiores dimensões. Como é obvio, não existem milagres, pois os dois lugares disponíveis atrás são particularmente acanhados e a mala tem capacidade para um pacote de bolachas... Para além disso, a suspensão revelou-se igualmente confortável, e o escalonamento da caixa, bastante longo, permitia ir a velocidades elevadas, sem que o motor fosse muito “esforçado”, beneficiando os consumos e evitando que o barulho do motor invadisse demasiado o habitáculo. Mas estávamos em auto-estrada e o verdadeiro teste surgiria no habitat natural deste veículo: a cidade. Mas ainda antes, mais um reparo: à saída da autoestrada, numa curva feita com algum excesso de confiança, foi possível sentir a boa estabilidade que o automóvel possuí. Apenas desiludiram os pneus, que de dimensões extremamente reduzidas, acusaram logo de imediato a suas limitações, traduzindo-se num chiar incómodo e uma deriva inesperada da viatura em direcção às barras separadoras da estrada. Talvez fosse uma entrada demasiado inspirada da minha parte, mas a velocidade até não era assim tanta que justifica-se tamanha falta de aderência (para além disso os pneus estavam em boas condições).
Chegados a Huelva, à hora de ponta, ficámos retidos no meio de trânsito. De vidros abertos, o barulho do pequeno três cilindros não é muito agradável, trepidando e com um som irregular, mas nada de grave, pois existem outros motores diesel no mercado, bem piores. A caixa automática revela-se uma preciosa amiga do condutor nestas condições, tornando a condução do para/arranca mais descansada e agradável.
Num semáforo apareceu ao nosso lado um BMW série 3 Compact (320d), com dois espanhóis que olhavam para o nosso pequeno bólide e riam. Estava lançado o desafio. Um bom português não pode negar uma provocação. Coloquei a caixa na posição manual sequencial, aproveitando o momento para experimentar a sua velocidade de resposta. Passou para a luz verde e vrooooom! Inesperadamente o pequeno Lupo passa para a liderança. Mas assim que mudo a mudança (com um ligeiro toque no manípulo), fico uma eternidade à espera que surja a outra relação superior. Olho para o pequeno visor à minha frente e finalmente verifico que passou para segunda. Quando já íamos em terceira, surgiu a altura de travar, pois estava uma fila à nossa frente. Decepcionado com a rapidez da caixa, que não evita uns solavancos desagradáveis (ainda assim bem melhor do que a caixa automática do Smart), decidi olhar para trás e ver onde estavam os Espanhóis com o seu ridículo BMW. Não os via... Olho para a frente e nada... estranho... onde estarão eles?! Será que com o nosso arranque desenfreado os pulverizámos?! Olho outra vez para a frente e dou com eles! Estão à frente de outro automóvel para além do nosso! Durante o arranque não só nos deixaram para trás, como inclusive, ultrapassaram outro automóvel que ia à nossa frente! Com o orgulho lusitano ferido, apenas serviu de consolação a desforra que ficará para uma próxima vez, mas de preferência com um Lamborghini nas nossas mãos...

Chegada a hora de estacionar, tudo fica facilitado devido às reduzidas dimensões do Lupo. Não existe um “buraco” onde não o consigamos meter. Apenas existe um problema. A ausência da direcção assistida, que implica uma força redobrada para virar a direcção. Não é exageradamente pesada, mas actualmente já se sente a falta da assistência. Mais uma vez a tentativa de reduzir o peso do automóvel por parte dos técnicos, sacrificou algum prazer de condução.

Por fim a melhor parte. Com mais de uma centena de quilómetros efectuada, com condução em auto-estrada a velocidades menos adequadas e uma intensa condução citadina, gastou-se pouco mais de 5 euros. De facto é impressionante a facilidade com que podemos efectuar médias de 4 litros sem fazer sacrifícios com o acelerador. Acredito plenamente que em condições adequadas se possa atingir a tão almejada fasquia dos três litros aos 100km’s.

Apesar de ser um automóvel já fora de produção (o Lupo foi substituído pelo Fox), foi interessante realizar esta análise, que comprovou a boa qualidade do pequeno Volkswagen (não apresentava sinais de velhice, nem de desgaste), para além de ter os consumos reduzidos e a facilidade de condução e conforto em cidade como seu ponto a favor. Como carro usado é sempre uma boa aposta, para aqueles que queiram gastar pouco dinheiro e ter um automóvel pequeno e económico para andar no meio do trânsito urbano, o seu verdadeiro terreno de eleição.